O Pasquim - Fevereiro de 1970, Sobre "A Mulher de Todos (1969)":
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Millôr – Deixa eu fazer uma pergunta íntima. Você não está dizendo isto do Glauber no fundo por uma problema freudiano. Por ele ser seu comboço?
ROGÉRIO – Não. Eu queria explicar o seguinte: ele falou no meio da entrevista que os jovens cineastas brasileiros estão fazendo uma parafernália tropicalista, quer dizer, me acusando, a mim e a outros talentos, de fazerem tropicalismo quando quem faz tropicalismo…
O Pasquim - Fevereiro de 1970: Francis – Você está fazendo cinema como um negócio auto-suficiente em que você se realiza como pessoa, como profissional? Ou você acha que esse negócio não tem nenhum sentido e que é apenas um instrumento pra você dizer as coisas?
ROGÉRIO – Você é uma pessoa inteligente. Eu sou uma pessoa mediana. Eu acho que o cinema não me realiza e ao mesmo tempo me realiza um pouquinho. Falar de cinema nacional é diferente…
O retrato caricatural do autista — que quase nunca é assumido dentro da maioria dos filmes — neste até é assumido, mas de forma tímida. Este elemento está mais para dar tiques e um quê engraçadinho ao Christian do que realmente potencializar isso no desenvolvimento da trama ou da própria ação.
Ação essa que demora muito pra chegar e, quando chega, é broxante. Assim como a ação do filme, falar dela também é broxante. Metalinguístico, talvez.
A questão que fica: por que continuar isso?
O perfeito exemplar para entender como forma e conteúdo, mesmo que postos de uma maneira aparentemente antagônica, geram o mesmo discurso.
Quando se fala sobre "Nascimento de uma Nação (1915)", é replicado o mesmo discurso: "revolucionário na forma... mas o racismo brutal..." E não está errado, porém é um discurso replicado tantas vezes que grande parte das pessoas esquece ou não percebe que esse mérito técnico e demérito racista não são isolados.
Venho anunciar meu primeiro curta-metragem! youtu.be/M6O-eTLpAPI?si=W7r6dGlkY-Pes1zm
Depois que assistir quero saber sua opinião hein
Um filme extremamente corajoso acho que é o principal adjetivo que poderia entregar.
Exige coragem para em 1980 expor o que foi exposto aqui, hoje é terreno comum os filmes brasileiros abordarem temas sobre crime e etc, mas se até hoje Pixote é chocante, imagine pra época onde mal se tratava desse assunto. Tanto que tem um prólogo bem didático com o próprio diretor contextualizando o tema. É difícil ver tanta barbaridade em tela ser protagonizadas por crianças, só que infelizmente isso acontece mais do que a gente imagina e é importante que o debate continue.
